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POLÍTICA EXTERNA


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Sem complexo de vira-latas, Brasil conquista soberania e respeito mundial

Com Lula e Dilma, país alcançou o posto de sexta economia mundial, tornou-se voz de liderança e exemplo para outras nações

Duas capas da revista The Economist - uma bastante conhecida e divulgada, outra nem tanto - retratam um passado recente do Brasil, mas ao mesmo tempo longínquo. Em 2009 e em 2010, a publicação inglesa exaltou o protagonismo do Brasil no cenário internacional. Com Lula e Dilma, nosso país viveu anos de respeito e reconhecimento mundial.

O Brasil havia não apenas vencido a principal guerra que tínhamos - a fome - como também passou a ter voz de liderança no continente e no mundo. Lula foi saudado como “o cara” pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama; nossa tecnologia social virou modelo para a África, o chanceler Celso Amorim foi escolhido como o “melhor ministro de Relações Exteriores do Mundo” e a revista Foreign Policy escreveu que vivíamos nosso melhor momento “desde o tratado de Tordesilhas".

Nos governos do PT, o Brasil deixou de lado o papel secundário e previsível de jamais contrariar as decisões tomadas pelos Estados Unidos e pelos países europeus. Nossas atenções e esforços maiores se voltaram para os vizinhos da América Latina, principalmente da América do Sul, além da África e o Oriente Médio.

O Brasil, que havia alcançado o posto de sexta maior economia do mundo, voltou a ser o país que tira os sapatos para os Estados Unidos. Em 2002, isso realmente aconteceu. O ministro das Relações Exteriores do governo de Fernando Henrique Cardoso, Celso Lafer, precisou passar descalço na inspeção de segurança ao desembarcar no país norte-americano para provar que não era um terrorista carregando explosivos. Desde 2019, com Bolsonaro, nosso país tornou-se irrelevante na diplomacia e pária internacional.

Novos tempos para a política externa em duas capas da revista The Economist. À esquerda, em dezembro de 2009, 'O Brasil decola'. Em Setembro do ano seguinte, à direita 'A ascenção da América Latina', que era chamada pejorativamente de quintal dos EUA. | Reprodução

Novos tempos para a política externa em duas capas da revista The Economist. À esquerda, em dezembro de 2009, 'O Brasil decola'. Em Setembro do ano seguinte, à direita 'A ascenção da América Latina', que era chamada pejorativamente de quintal dos EUA. | Reprodução

Fim da era de Pires na mão para o FMI e com soberania

Com empresários e diplomatas unidos em missões internacionais, comércio exterior foi ampliado

Com Lula e Dilma, a dependência em relação ao Fundo Monetário Internacional (FMI) também ficou para trás. FHC recorreu ao FMI três vezes. Lula fez diferente e não apenas quitou a dívida com o fundo, como também acabou com toda a dívida externa do Brasil. Além disso, acumulamos reservas internacionais que chegaram a US$ 379 bilhões.

Com soberania, o Brasil ampliou suas parcerias sem esperar autorização de nenhum outro país. Essa grande diversificação das nossas parcerias foi responsável por uma extraordinária expansão das exportações. Como comparação, no período FHC, o Brasil teve um déficit acumulado de US$ 15,2 bilhões. Com o PT, o país obteve um superávit acumulado de US$ 294 bilhões. Além disso, todos foram tratados como iguais, deixando para trás o tempo em que o Brasil falava fino com os Estados Unidos e falava grosso com a Bolívia, como bem definiu Chico Buarque de Holanda.

Para que a afirmação da soberania nacional viesse acompanhada de resultados concretos, empresários brasileiros se juntaram aos diplomatas nas missões internacionais. O efeito foi quase imediato: o comércio exterior brasileiro se diversificou. A crise internacional de 2008 mostrou que essa foi a opção mais acertada, afinal o Brasil já não dependia de quem estava afundado na crise.

Em 2014, Lula recebeu homenagem na categoria 'Promoção da Imagem do Brasil no Exterior' em cerimônia do 5º Prêmio Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). | Foto: Ricardo Stuckert

Em 2014, Lula recebeu homenagem na categoria 'Promoção da Imagem do Brasil no Exterior' em cerimônia do 5º Prêmio Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). | Foto: Ricardo Stuckert

Nova governança mundial


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Brasil à frente da OMC e FAO

Roberto Azevêdo e José Graziano da Silva representaram o País nas organizações

O Brasil também desempenhou papel importante no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Em maio de 2013, o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo venceu a disputa para ocupar o cargo de diretor-geral da OMC, tornando-se o primeiro latino-americano e o primeiro representante dos BRICS no cargo. Ele permaneceu na função até agosto de 2020.

Na FAO, o Brasil foi representado por José Graziano da Silva, que atuou como diretor-geral da organização entre 2012 e 2019. Durante esse período, Graziano implementou toda a experiência acumulada com o programa Fome Zero, do qual ele foi coordenador de desenvolvimento e de implementação, no governo Lula.

Governo Dilma trabalhou intensamente pela candidatura de Azevêdo na OMC; O Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, segura alguns ovos produzidos em uma granja de produção de aves e ovos apoiada pela FAO no distrito de Gakenke, Ruanda. | Fotos: Roberto Stuckert e Luis Tato
Governo Dilma trabalhou intensamente pela candidatura de Azevêdo na OMC; O Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, segura alguns ovos produzidos em uma granja de produção de aves e ovos apoiada pela FAO no distrito de Gakenke, Ruanda. | Fotos: Roberto Stuckert e Luis Tato

Governo Dilma trabalhou intensamente pela candidatura de Azevêdo na OMC; O Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, segura alguns ovos produzidos em uma granja de produção de aves e ovos apoiada pela FAO no distrito de Gakenke, Ruanda. | Fotos: Roberto Stuckert e Luis Tato

Dilma denuncia EUA por espionagem, na ONU

Com Alemanha, Brasil apresentou resolução contra espionagem; presidenta cobrou pedido de desculpas de Obama

Nos governos do PT, não houve espaço para diplomacia submissa. O Brasil apresentou na ONU, juntamente com a Alemanha, uma resolução contra a espionagem praticada sobretudo pelos Estados Unidos. Documentos vazados por Edward Snowden em 2013 apontavam que os EUA monitoraram as comunicações do governo Dilma e da Petrobras. As denúncias também envolviam grampo no telefone da chanceler alemã Angela Merkel.

Em pronunciamento duro na abertura da Assembleia-Geral da ONU, em setembro de 2013, em Nova York, a presidenta Dilma classificou como “afronta” as denúncias de que ela e a Petrobras foram alvos de espionagem dos EUA.

Dilma cobrou que o então presidente americano Barack Obama emitisse um pedido público de desculpas pelas denúncias de espionagem. Esse pedido de desculpas público ao Brasil, no entanto, nunca aconteceu. Com a Alemanha, Barack Obama agiu de forma diferente e, em pronunciamento diante da imprensa, prometeu impedir qualquer grampo no telefone de Angela Merkel.

Nos governos do PT, não houve espaço para diplomacia submissa. O Brasil apresentou na ONU, juntamente com a Alemanha, uma resolução contra a espionagem praticada sobretudo pelos Estados Unidos. Documentos vazados por Edward Snowden em 2013 apontavam que os EUA monitoraram as comunicações do governo Dilma e da Petrobras. As denúncias também envolviam grampo no telefone da chanceler alemã Angela Merkel.

Em pronunciamento duro na abertura da Assembleia-Geral da ONU, em setembro de 2013, em Nova York, a presidenta Dilma classificou como “afronta” as denúncias de que ela e a Petrobras foram alvos de espionagem dos EUA.

Dilma cobrou que o então presidente americano Barack Obama emitisse um pedido público de desculpas pelas denúncias de espionagem. Esse pedido de desculpas público ao Brasil, no entanto, nunca aconteceu. Com a Alemanha, Barack Obama agiu de forma diferente e, em pronunciamento diante da imprensa, prometeu impedir qualquer grampo no telefone de Angela Merkel.

Em discurso na ONU, Dilma disse que Brasil não tolerava espionagem de outros países. | Foto: Roberto Stuckert

Em discurso na ONU, Dilma disse que Brasil não tolerava espionagem de outros países. | Foto: Roberto Stuckert

BRICs


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BRICS, a reação dos emergentes

Grupo de países se uniu e criou o Banco dos BRICs para ser alternativa ao FMI e ao Banco Mundial

A criação dos BRICS, conjunto de cinco países emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), conquistou influência na economia mundial. Em 2006, esses países se uniram para formar uma comunidade, que se encontrou formalmente pela primeira vez em 2009. A África do Sul aderiu ao grupo em 2011.

As previsões eram ousadas: o grupo alcançaria a metade do peso das seis economias mais fortes (Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão) em 2025. Em 2017, oito anos antes do esperado, os BRICS alcançaram metade do peso dos países do G-6. Em 2020, de acordo com os dados do Banco Mundial, o bloco mantinha um PIB equivalente a 56% do G-6 e 24% do PIB mundial. Além disso, em termos populacionais, os BRICS representavam, em 2020, cerca de 41% da população global.

Em 2014, o Brasil foi um dos fundadores do Banco dos Brics, um banco de desenvolvimento criado para ser uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial.

Presidentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul durante a sexta cúpula do BRICS, em Fortaleza. | Foto: Roberto Stuckert

Presidentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul durante a sexta cúpula do BRICS, em Fortaleza. | Foto: Roberto Stuckert

América Latina


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Integração e democracia fortalecida na América Latina

Com Alemanha, Brasil apresentou resolução contra espionagem; presidenta cobrou pedido de desculpas de Obama

No governo Lula, o Mercosul tornou-se uma zona de convergência de políticas industriais, agrícolas, comerciais, científicas, educacionais e culturais para cada um de seus integrantes.

No plano comercial, a América do Sul passou a ocupar um espaço cada vez maior no quadro de exportações brasileiras. O bloco multiplicou as importações do Brasil – passou de US$ 7,4 bilhões, em 2002, para US$ 31 bilhões em 2015 – com um pico de US$ 45,2 bilhões em 2011. A participação da América do Sul no destino das exportações brasileiras passou de 12,4%, em 2002, para 16,6%, em 2015. No entanto, após o golpe contra a presidenta Dilma, essa participação diminuiu e, em 2019, caiu para 12,6%

A atuação do Brasil na América Latina também foi importante na defesa dos valores democráticos. Desde os primeiros meses de 2003, o Brasil atuou como articulador, para promover o diálogo e assegurar que a soberania nacional e a vontade das urnas fossem respeitadas.

Poucos dias após assumir a Presidência, Lula propôs a criação do grupo Amigos da Venezuela, com a participação do Brasil, Estados Unidos, Espanha, México, Portugal e Chile. Os governos desses países intermediaram as negociações entre o presidente Hugo Chávez e a oposição, que havia tentado um golpe de Estado meses antes. O diálogo garantiu a realização de um referendo revogatório naquele mesmo ano, quando a maioria do povo venezuelano decidiu pela manutenção do mandato de Chávez.

O governo brasileiro também contribuiu para uma solução pacífica na grave crise que colocou a Bolívia à beira de uma guerra civil, em 2009, e nos esforços para neutralizar uma tentativa de desestabilização do Equador, em 2010.

Ainda durante o governo Lula, em 2010, foi criada a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), um dos principais fóruns de debates políticos na América Latina. O órgão agrupava 33 países, quase todos os países da Organização dos Estados Americanos (OEA), com exceção dos EUA e do Canadá. 

A atuação do Brasil como articulador e promotor de diálogo na América Latina permaneceu durante o governo Dilma Rousseff. Em 2013, a presidenta foi a porta-voz dos demais países da região e atuou para que Cuba participasse da 7ª Cúpula das Américas. Foi a primeira reunião entre Cuba e EUA em mais de 50 anos. A posição unânime da América Latina sobre a participação de Cuba na cúpula foi informada por Dilma ao presidente dos EUA Barack Obama.

União do Mercosul garantiu avanços econômicos, sociais, culturais e democráticos na região. | Foto: Roberto Stuckert

União do Mercosul garantiu avanços econômicos, sociais, culturais e democráticos na região. | Foto: Roberto Stuckert

África


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Uma nova história entre Brasil e África

Com Lula, governo brasileiro ampliou relações com o continente africano; Dilma abriu caminhos para novos negócios entre países

Após tomar posse como presidente da República, Lula começou um inédito e bem sucedido processo de aproximação com a África. Em dois mandatos, ele visitou 22 países da África. Foram 33 viagens presidenciais e 19 novas embaixadas abertas. A presidenta Dilma manteve as bases que estruturaram a cooperação entre o Brasil e o continente africano.

Em 2004, foi concluída a negociação do acordo de comércio preferencial entre o Mercosul e a União Aduaneira da África Austral (SACU), bloco que reúne África do Sul, Botsuana, Lesoto, Namíbia e Suazilândia. No mesmo ano, as exportações brasileiras para a África do Sul cresceram 41%. Em 2013, as exportações para o país sul-africano atingiram o pico (US$ 1,8 bilhão).

Em 2013, o Brasil perdoou quase US$ 900 milhões das dívidas externas de 12 nações africanas. Essa iniciativa abriu caminho para a realização de novos negócios e os países africanos ampliaram importações de produtos como combustíveis (álcool, diesel e gasolina), açúcar, carne bovina e minério de ferro.

As transações comerciais entre Brasil e África passaram de US$ 5 bilhões, em 2002, para US$ 17 bilhões, em 2015. A média anual das transações do país com o continente africano, nos governos petistas, foi de US$ 19,6 bilhões, enquanto, nos anos pós-golpe (2016-2019), a média caiu para US$ 13,8 bilhões, ou seja, uma redução de 30%.

Lula visita ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, em 2008. | Foto: Ricardo Stuckert

Lula visita ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, em 2008. | Foto: Ricardo Stuckert

Novos Mercados


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Diplomacia mascate e novos mercados

No Oriente Médio, atuação conjunta com empresários garantiu aumento do lucro da indústria e agronegócio brasileiros

No governo Lula, a diplomacia brasileira passou a atuar, também, como “mascate”, conforme o próprio Lula definiu. A ideia era vender os produtos brasileiros de porta em porta. Essa iniciativa também surtiu efeito no Oriente Médio. As exportações de carne de aves, minério, cereais e açúcar para a região aumentaram o lucro da indústria e do agronegócio brasileiros. Entre 2002 e 2015, o comércio entre os países árabes e o Brasil quadruplicou. Os três maiores parceiros comerciais da região – Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e Irã – compravam, juntos, cerca de US$ 1,7 bilhão, em 2002. Em 2015, alcançaram US$ 6,9 bilhões em compras do Brasil.

Entre os países que não tinham importância para a política externa brasileira, Omã é um dos mais significativos: em 2002 comprava R$ 31 milhões do Brasil e em 2015 importou nada menos que R$ 584 milhões (19 vezes mais).

O governo Dilma, com as relações já mais estruturadas com os países do Oriente Médio, apresentou uma média anual de exportação de US$ 11 bilhões.

Exportações brasileiras
Presidente Lula discursa seminário empresarial Brasil-Índia. | Foto: Ricardo Stuckert

Presidente Lula discursa seminário empresarial Brasil-Índia. | Foto: Ricardo Stuckert

Paz e Solidariedade


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Presença militar brasileira ajuda na reconstrução do Haiti

Brasil mostrou comprometimento com o cenário internacional enviando 37 mil homens e uma seleção de futebol

Solidariedade. Esta é uma das motivações da política externa brasileira, desde o início do governo Lula. Uma motivação que não ficou limitada ao plano das ideias ou ao campo das boas intenções, mas que se materializou em ações práticas, com resultados concretos. Como parte dessas ações práticas, o Brasil assumiu a coordenação da Missão das Nações Unidas para a estabilização do Haiti, de 2004 a 2017.

A missão, contou com um contingente de 37,5 mil brasileiros e ajudou a evitar o conflito entre grupos armados e a manter um mínimo de estabilidade no país. Além disso, a missão de paz passou a ser fundamental também na reconstrução do Haiti, após o terremoto que, em 2010, matou mais de 200 mil pessoas e quase destruiu o país mais pobre das Américas.

Lula com integrantes da Brigada de Paz no Haiti. | Foto: Ricardo Stuckert

Lula com integrantes da Brigada de Paz no Haiti. | Foto: Ricardo Stuckert

Contra a guerra, o diálogo

Em conjunto com a Turquia, Brasil consegue acordo sonhado pelos Estados Unidos, mas países ricos quebram a promessa e optam por sanções

Com o sentimento e a convicção de que era possível evitar a guerra, a diplomacia brasileira e o próprio presidente Lula juntaram-se ao governo da Turquia e surpreenderam o mundo em 2010. Com o diálogo, brasileiros e turcos conseguiram o que parecia impossível: o Irã concordou em limitar seus estoques de urânio. O país enviaria 1,2 toneladas de urânio levemente enriquecidos ao exterior em troca de 120 quilos de urânio enriquecido em até 20% – para uso em pesquisas e tratamentos médicos – vindo de outros países. Com isso, na prática, o Irã ficaria sem matéria prima para produzir urânio altamente enriquecido, que é o material usado nas bombas nucleares.

O acordo só não foi à frente porque os Estados Unidos – que haviam solicitado o auxílio do Brasil e até mesmo sugerido termos do acordo– e as potências europeias, insatisfeitas por terem ficado em segundo plano, preferiram manter e aumentar as sanções econômicas ao Irã. Cinco anos depois, norte-americanos e europeus firmaram com o Irã outro acordo, sem vantagens em ao que o que tinha sido obtido por Brasil e Turquia. Em 2018, os Estados Unidos abandonaram o acordo e reinstauraram as sanções ao Irã, que posteriormente retomou a produção de urânio altamente enriquecido em seu programa nuclear.

Desmonte da Política Externa


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Com Bolsonaro, Brasil deixa de ser protagonista e torna-se pária

Submisso aos EUA, com Trump, Bolsonaro rompeu trajetória e comprometeu alianças

Depois de 2019, com a chegada de Bolsonaro à Presidência da República, o Brasil passou a praticar uma aliança política-ideológica subalterna à extrema-direita norte-americana. A principal consequência dessa escolha foi o isolamento internacional do Brasil, agravado pela derrota eleitoral de Donald Trump, em 2020.

Reconhecida por sua tradição universalista e não intervencionista, o governo Bolsonaro rompeu essa trajetória histórica e optou por uma clara submissão à política de Trump. O Brasil negligenciou sua participação nos Brics e na Organização Mundial do Comércio (OMC), comprometendo a aliança histórica de defesa dos países em desenvolvimento.

Durante a pandemia da Covid-19, o Brasil tornou-se um pária sanitário. O governo Bolsonaro hostilizou a China, país produtor de vacinas e insumos básicos, e apostou na cooperação com os EUA para receber milhões de doses de hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada para o combate ao vírus.

O Brasil hoje opera na paralisia do Celac. No Mercosul, atua no sentido de derrubar a união aduaneira. Ao apostar no isolamento da Venezuela, por meio do Grupo de Lima, e reconhecer Guaidó como presidente interino, em 2019, enterrou a capacidade de atuar como um mediador de um conflito de natureza política.

Lula visita ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, em 2008. | Foto: Ricardo Stuckert

The Economist, em 2018, já classificava Bolsonaro como um presidente desastroso e ameaça à América Latina. | Reprodução

Priorizar a diversificação das relações diplomáticas do Brasil gerou algum resultado prático ou os efeitos dessa política limitaram-se ao campo político?

Ampliar o leque de parcerias foi importante para a afirmação e consolidação da soberania nacional e também trouxe benefícios para a economia brasileira. Nos governos Lula e Dilma, empresários brasileiros se juntaram aos diplomatas nas missões internacionais. O efeito foi quase imediato: o comércio exterior brasileiro se diversificou, reduzindo a dependência em relação à economia dos Estados Unidos e da Europa. A crise internacional de 2008 mostrou que essa foi a opção mais acertada, afinal o Brasil já não dependia de quem estava afundado na crise, pois havia aumentado seu comércio com países de todos os continentes.

É verdade que, com Lula e Dilma, o Brasil deu as costas aos Estados Unidos, ignorando um parceiro tradicional e o maior mercado consumidor do mundo?

Isso não é verdade. A diversificação dos laços diplomáticos e das relações comerciais do Brasil não implicou em desprezar o relacionamento com parceiros tradicionais. O peso desses países na balança comercial brasileira diminuiu, é verdade, mas isso foi resultado da diversificação, ou seja, do crescimento ou do surgimento de novas parcerias. A prova disso é que, mesmo com a crise internacional de 2008, o valor absoluto de exportações brasileiras para os Estados Unidos cresceu de US$ 15,5 bilhões em 2002 para US$ 24,8 bilhões em 2013. O crescimento das vendas para a União Europeia foi ainda maior: saltou de US$ 15,1 bilhões para US$ 47,7 bilhões no mesmo intervalo de tempo.

A maior influência que o Brasil passou a exercer na América Latina aumentou as tensões ou contribuiu para manter a estabilidade na região?

Priorizar a América Latina significou mais do que negociar tarifas e barreiras comerciais entre os parceiros do Mercosul. A pauta da política externa para a região envolveu, principalmente, a defesa da democracia. O Brasil atuou, desde os primeiros meses de 2003, como articulador para promover o diálogo e assegurar que a soberania nacional e a voz das urnas fossem respeitadas na região, como aconteceu em conflitos ou tentativas de golpe de estado na Venezuela, Honduras, Paraguai e Bolívia. Essa postura contribuiu para aumentar o respeito pelo Brasil entre os nossos vizinhos.

O que o Brasil ganha ao juntar-se aos grandes países emergentes (Rússia, China Índia e África do Sul) para formar um bloco econômico?

Os países do bloco chamado de BRICS (iniciais de Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) foram os que mais cresceram depois da crise econômica internacional de 2008, quando o comércio entre eles duplicou, indo de US$ 143 bilhões, naquele ano, para US$ 276 bilhões, em 2012. A participação no bloco, portanto, pode assegurar que as propostas desses cinco países sejam consideradas pelas superpotências e pelos demais blocos econômicos. Afinal, quem negocia isoladamente sempre está mais vulnerável.

Quais foram os resultados concretos das muitas viagens que Lula e os diplomatas brasileiros fizeram aos países da África?

O Brasil e a África nunca estiveram tão próximos quanto nos governos Lula e Dilma. É bem verdade que o continente africano passou a ser visto como um mercado atraente para os produtos brasileiros, mas não é só isso. Além de ter perdoado US$ 900 milhões da dívida externa de 12 países africanos, o Brasil transferiu tecnologia para a África, principalmente na área de produção de alimentos, por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que, em 2006, instalou um escritório em Gana para desenvolver 42 projetos que estão contribuindo para reduzir a fome. A fábrica de medicamentos da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) em Moçambique começou a funcionar em 2012, produzindo remédios contra o HIV/AIDS. Mais de 2,5 milhões de moçambicanos sofrem com a doença naquele país.

É verdade que o Brasil perdeu dinheiro perdoando dívidas de países africanos?

Não. As dívidas existentes eram antigas e impediam que o Brasil expandisse as operações comerciais com esses países. Ao dispensar o pagamento dessas dívidas, nosso país saiu ganhando porque abriu a possibilidade de fazer novos negócios com os países africanos. As transações comerciais entre Brasil e África passaram de US$ 5 bilhões, em 2002, para US$ 17 bilhões, em 2015.

Por que se envolver numa negociação relativa ao programa nuclear do Irã, se o Irã fica do outro lado do mundo e não tem nada a ver com o Brasil?

No episódio de 2010, em que Lula juntou-se ao primeiro-ministro da Turquia para convencer o governo iraniano a enviar urânio para ser enriquecido nas usinas turcas e devolvido pronto para ser usado em pesquisas médicas, a diplomacia brasileira foi movida pela necessidade de tomar alguma atitude que pudesse evitar a guerra e sanções econômicas que poderiam prejudicar não apenas a população do Irã, mas de boa parte dos países do Oriente Médio. Apesar do Irã ter concordado com as argumentações brasileiras e turcas, o acordo não foi à frente porque os Estados Unidos e as potências europeias, insatisfeitas por terem ficado em segundo plano, preferiram manter o impasse e fazer ameaças econômicas e militares.