Ex-presidente lançou em Salvador (BA) nova etapa do Memorial da Democracia, referente ao período que vai de 2003 até 2010
Foto: Ricardo Stuckert
17/08/2017 23:08
"É fundamental a gente reconstituir a história de lutas do povo brasileiro pela liberdade e contra as injustiças. Isso é importante porque geralmente a história é contada pelos dominadores". Assim o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou sua participação na noite desta quinta-feira (17), em Salvador (BA), durante o ato de lançamento da nova linha do tempo do Memorial da Democracia, que abrange o período de seu governo (2003 a 2010).
"Foi aqui na Bahia que começou a história do Brasil. Aqui teve início a dominação colonial, o martírio dos indígenas, a exploração desumana dos africanos escravizados. Foi também na Bahia que começou a tenaz e heróica resistência de um povo que foi se formando com tantas e tantas origens", ressaltou Lula, diante de uma multidão que lotou o estádio de futebol Arena Fonte Nova.
Lula destacou a luta dos quilombos, as grandes revoltas do século passado, as ocupações de terra, as greves e a resistência contra a ditadura como expressões de um povo que sempre batalhou para transformar sua realidade social. "Este Memorial ainda vai dar o que falar. Nós precisamos divulgar para cada vez mais pessoas terem acesso. Não é possível que este povo continue se informando pela Rede Globo de televisão e outras tevês que só passam filme estrangeiro", defendeu.
Na estrada
Pronto para pegar a estrada de ônibus a partir de amanhã, rumo ao Nordeste profundo, Lula explicou a iniciativa: "Quando nós ganhamos pela primeira vez a presidência da República era para mostrar que combater a desigualdade era viável, o Brasil era possível. É por isso que decidi voltar a andar por este país. Não é para falar de eleição, é pra aprender com o povo e entender o que está acontecendo neste país que está subordinado a um golpe e a pessoas que nunca tiveram competência para assumir a presidência".
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Ao falar sobre a atual crise política e econômica, o ex-presidente foi incisivo: "Se um governante governa um país e, numa crise, começa a vender o patrimônio desse país, esse governante deveria pedir desculpas e ir embora. Não serve para governar. Eu tenho orgulho de ter governado este país no período mais democrático da política. Foi um torneiro mecânico, sem diploma universitário, que mais fez universidade pública nesse país. A minha história eles não vão conseguir apagar, está na cabeça das pessoas".
Contra o golpe, mais democracia
Na avaliação de Lula, o impedimento de Dilma em 2016 só pode ser compreendido pela repulsa da elite política brasileira ao povo. "É a única explicação que eu vejo para o golpe que eles deram nos 54 milhões de brasileiros que elegeram esta mulher. Eles queriam truncar as conquistas do povo antes que elas fossem "intruncáveis". Eles não queriam que a empregada doméstica tivesse direito à salário e usasse o mesmo perfume da patroa. Quando o povo passou a andar de avião, eles disseram que os aeroportos estavam parecendo uma rodoviária".
Lula se disse incomodado com o fato de o Brasil ter virado motivo de gozação no exterior. "Este país chegou a ser considerado a quinta economia mundial em 2008. Eu não sou nenhum revolucionário, eu sou um despertador de consciências. Eu quero despertar a consciência deste povo. E como nós acreditamos em democracia, nós não vamos fazer nenhum ato de violência. Este país tem que se preparar porque a gente vai voltar em 2018. Ainda falta muito tempo para as eleições e nós saberemos criar um candidato na hora certa", pontuou.
História viva
A apresentação do museu multimídia ficou por conta do jornalista Franklin Martins, coordenador do Memorial. "O Memorial Da Democracia não é um museu somente virtual, é também multimídia e interativo. Você aprende e ensina com ele", pontuou. Na ocasião, Franklin deu um passeio pelo museu virtual, clicando nos novos conteúdos e mostrando ao público as linhas históricas, vídeos, panfletos, fotos, cartazes de época, documentos e músicas. Descontraído, o ex-ministro da Comunicação do Governo Lula até entoou uma canção baiana, símbolo da cultura brasileira, mas também foi taxativo em relação a situação política nacional. "A elite brasileira - se é que dá para chamar esta gente de elite - sempre achou que o país era só para ela e que, na melhor das hipóteses, dava para governar para apenas um terço da população. De 2003 a 2010, ficou comprovado que isso era um mito. Lula mostrou que o povo é um patrimônio, que quando o povo é tratado como sujeito, o Brasil se torna mais forte, mais rico e mais respeitado. O povo brasileiro não tem complexo de vira-latas coisa nenhuma. A elite é que não está à altura do país", sustentou.
Franklin convidou todos a conhecerem e divulgarem o museu virtual. "O Memorial é um instrumento para conhecer a nossa história. Não é uma coisa escondida, está tudo na internet. Para dar uma ideia a vocês, são aproximadamente mil episódios nestes cinco módulos, são 50 extras, 3 mil fotos, mil trechos de vídeos, 500 trechos de músicas, 200 cartazes e panfletos", detalhou.
O museu
Concebido pelo Instituto Lula em parceria com uma rede de jornalistas, historiadores, educadores, artistas e pesquisadores, o Memorial é um espaço dedicado às lutas na construção de um país mais justo, livre e soberano. Seu objetivo é colocar à disposição de todos os brasileiros conteúdos dinâmicos sobre a longa caminhada desde a Colônia até o século 21 em busca de democracia com justiça social.
O diretor do Instituto Lula, Paulo Okamotto, também participou do lançamento. "Esta ferramenta vai explicar uma coisa extraordinária que aconteceu no Brasil, na Bahia, no Nordeste, que são as mudanças, um outro jeito de governar e ver as prioridades. Vamos relembrar que a luta contra a corrupção começou no Governo Lula".
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